segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Amor e Amizade



Acredito que em nossa grande maioria ainda não nos amamos realmente para amar alguém. Temos apego pela nossa auto-imagem, pelo nosso ego, pela nossa identidade construída que nem sabemos direito o que é, mas como achamos que é só isso que existe, temos muito medo de perdê-la. E quando "amamos" alguém, estamos amando o reflexo dessa identidade no outro. Eureka! Vislumbramos a possibilidade de agarrar essa identidade fora de nós, só pra garantir. É uma enorme egotrip! Narcisismo total! E é por isso que acabamos machucando uns aos outros. Quando nos damos conta dessa grande ilusão nos culpamos e nos sentimos enganados pelo ser amado. "Como é que esse ser não corresponde a todas as minhas expectativas?" nos perguntamos atônitos. Mas nós também criamos muitas expectativas em relação a nós mesmos, pois não percebemos que já somos absolutamente perfeitos em nossa natureza original.
O verdadeiro amor está muito longe disso. Acho que nas relações de amizade podemos vivenciar mais plenamente o sentimento de amor. Talvez porque não estejamos tão envolvidos pelos sentidos físicos, que, convenhamos, nos deixam bastante confusos. Não é à toa que o Sutra do Coração nos alerta o tempo todo sobre a vacuidade de sua existência. Mas isso vale para todos os fenômenos. O que estou querendo dizer é que se os fenômenos brotam da vacuidade, ou seja, se forma é vazio e vazio é forma, podemos experimentar amar nossos amados assim como amamos nossos amigos, enxergando-os além da forma física que nos agrada, sentindo muito mais do que somos capazes através de nossos cinco sentidos e, principalmente, deixando-os livres para simplesmente existir, sendo exatamente quem eles já são. Isso é amizade. Isso é amor. Que tal praticá-lo em todas as nossas relações?

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