segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Observando a paisagem do Natal... Sobre a saudade e a impermanência...

O Natal está aí, como acontece todos os anos. É uma época em que me sinto um pouco estranha hoje em dia. Fico com uma sensação de peixe fora d'água, ou no mínimo, nadando contra a corrente...
Mas apesar da correria para comprar presentes e preparar a ceia,  o que, confesso, só de olhar já me causa um certo cansaço, sinto que no fundo o que as pessoas querem mesmo é estar juntas, resgatando um sentimento de união e pertencimento,  um sentido de clã que data dos primórdios da humanidade.
Muitas pessoas se deprimem nesta época do ano. É uma época onde as questões afetivas ficam muito expostas, pendências e assuntos mal resolvidos de toda sorte parecem clamar por uma "solução definitiva" antes do Natal, que, afinal de contas, é um tempo de Paz! Especialmente as questões familiares ficam em evidência no nosso campo de atenção, mas também questões com parceiros, amigos, companheiros de trabalho, enfim, cada um vai enfrentar seu "Juízo Final" nesta época de balanço.
E aí chega a noite de Natal! Celebramos o nascimento de Jesus, que nos trouxe como ensinamento amarmos uns aos outros como Ele nos amou. Mas será que compreendemos esse amor que Ele nos ofereceu e oferece até hoje? E será que colocamos em prática este precioso ensinamento?
Minha educação espiritual se iniciou no Catolicismo. Aprendi a rezar muito pequenininha com minha avó, Dona Antônia Celeste, ou, como todos carinhosamente a chamavam, Vó Lili. Ela me levava à missa, que eu adorava! Achava a Igreja um lugar lindo, onde eu podia conversar melhor com Jesus, que eu considerava uma espécie de irmão mais velho, e também com Nossa Senhora, que eu tinha certeza que cuidava de todos por quem eu pedia nas minhas orações.
Na escola, me preparando para a Primeira Comunhão, durante as aulas de catecismo, ficava encantada com as histórias sobre a vida de Jesus e as parábolas que ele contava em seus sermões. Eu era meio fã do cara! Levei muito a sério a Primeira Comunhão, foi um momento muito especial na minha vida. E no Natal minha avó sempre me levava à missa. Eu entendia que aquela época era especial, pois estávamos celebrando o nascimento daquele amigo com quem eu conversava antes de dormir.
Minha família é muito grande e hoje em dia fica mais difícil juntar todo mundo numa casa só na noite de Natal. Mas temos um grande sentimento de união e pertencimento, aquela coisa de clã que mencionei no início. Mesmo na correria do dia-a-dia durante o ano todo estamos sempre conectados. Não precisamos nos falar ou nos ver com frequência para sentirmos isto. É claro que gostaríamos de estar juntos mais vezes e até nos esforçamos para tal, mas cada um tem um ritmo de vida e nem sempre conseguimos.
Talvez esse meu sentimento de estranheza de hoje em dia seja uma espécie de saudade dos tempos de criança, quando passávamos o Natal todos juntos e quando minhas avós eram vivas. Sim porque Vó Talita, minha avó paterna, também era um foco de reunião familiar. Não era católica e sim luterana, e não muito religiosa. Mas por ser avó e pela sua simples presença, conseguia reunir a família nestas datas simbólicas.
Não posso deixar de falar nas minhas tias-avós, Amália, Loló e Quinquinha, e também na Tia Rosa, nossa doce "Amiguinha" e na Tia Neusa, que celebrou seu centenário em grande estilo, com direito a missa e bumba-meu-boi! Todas elas viveram muito! Lindas e lúcidas! Que felicidade... Que saudade...
Nesta época bate forte a saudade de todos aqueles que se foram... Banjo, Dinda Lygia, Tertuliano, João Manoel, Ana Lucia, Patrícia, Max, Claudinha e tantos outros... Pessoas incríveis que coloriam nossas vidas com sua presença única!
Este ano estou especialmente triste, pois minha "avó postiça" Helenita está no hospital e não vai poder celebrar conosco... Passamos alguns Natais juntas na casa de minha irmã. Ela sempre nos deu muita alegria! O bom-humor e alto-astral encarnados num abraço farto e aconchegante!!! Saudade do seu empadão de frango, do seu nhoque... Mais que tudo, saudade das suas tiradas engraçadas, da sua gargalhada sempre presente... Muita saudade...
Mas agora temos as crianças! João Pedro, Lívia, Phillipe, Isabelle, Laura, Maria Eduarda e o Daniel que acabou de chegar!!! Nossas mães e pais estão virando avós e estão radiantes com isto! A impermanência tem sua beleza! O movimento incessante da vida nos permite flutuar nessa correnteza e observar a paisagem mudando...
A música "A saudade", de Antonio Saraiva, que está na postagem anterior a esta, me tem feito viajar no espaço-tempo e repousar a cabeça no colo das minhas avós...
De hoje até o Natal vou postar algumas canções que me trazem memórias afetivas. Foi o jeito que encontrei de observar os sons desta época em que fico assim meio nostálgica...
Carinho,
Valeria.

Dedico esta postagem a meus pais, Maria José e João Leão, em profundo agradecimento pelo meu Precioso Nascimento Humano. Dedico também a meus ancestrais, a minha família, aos meus amigos, aos meus Mestres, à Preciosa Sangha e a todos os seres que habitam o universo, em todos os tempos e nas dez direções. Que os méritos destas singelas palavras se estendam e toquem a todos.
Gasshô.

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