domingo, 25 de outubro de 2009

Assum Preto



(Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira)

Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá mió
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus.


Esta é uma das minhas muitas canções favoritas. Sempre gostei dela, especialmente da pungente interpretação de Gal Costa.
A letra nos conta a triste ventura de um pássaro, o Assum Preto, que por ignorância dos homens, tem seus olhos furados, pois segundo a crença popular, quando cego, ele canta melhor.
Essa história nos remete à nossa própria condição humana. Assim como o pássaro, vivemos cegos, imersos na ignorância e no sofrimento, acreditando que dessa maneira podemos "cantar melhor". Isso é o que o Buda chamou de Dukkha, ou Natureza do Sofrimento, a primeira das Quatro Nobres Verdades de seu ensinamento supremo.

"Eis a verdade do sofrimento. Nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, doença é sofrimento, morte é sofrimento. Tristeza, lamentação, dor, pesar e desespero são sofrimento. Não ter o que se deseja é sofrimento, separação do que se deseja é sofrimento, união com o que não se deseja é sofrimento. Saudade é sofrimento, ser escravo de um passado já morto e um futuro inexistente é sofrimento. Ser presa fácil de estímulos exteriores de toda ordem é sofrimento. Quando sopram os ventos da sensibilidade nós vamos cegamente à sensualidade, quando sopram os ventos da raiva nós vamos cegamente à violência, quando sopram os ventos da agitação e preocupação nós vamos cegamente em direção à ansiedade e angústia, quando sopram os ventos da dúvida nós vamos cegamente ao ceticismo." (Sakyamuni Buddha)

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