quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Para Marcia, com carinho.



Pacto com a Lua
(Poema em três atos)

Hoje encontrei com a Lua no horizonte.
Ela estava radiante em seu vestido branco rodado, tecido com os raios dourados da luz do Sol.
Fizemos um pacto.
Ficarei acordada esperando ela vir me visitar daqui a pouco.
De minha janela quero acompanhar seu calmo e silencioso mergulho na escuridão luminosa das montanhas.
Farei isso todas as noites até que eu possa ver seu sorriso branco flutuando no céu.
Depois de desaparecer completamente pelo tempo de um suspiro, ela voltará invisível.
Vestida com o manto azul profundo do infinito...
Seu nome então será Nova.

Acordei às três e a Lua estava lá.
Cumprindo nosso trato ela veio me visitar.
Mas como ainda estava bem acima das montanhas,
Me disse pra dormir mais um pouco que quando estivesse partindo me chamaria.
E assim o fiz.
Ela me acordou antes das seis.
O céu já estava clareando e ela estava lá, agora já mais próxima das montanhas.
Acompanhei seu lento e tranquilo percurso,
Iluminado pelos primeiros raios do Sol.
Alguns pássaros vieram participar.
Entre eles, um tucano, majestoso em suas cores, passou rápido como uma seta que busca o alvo.
Para minha surpresa, ao invés de se despedir na escuridão luminosa da noite,
Ela preferiu ir ficando cada vez mais transparente até se dissolver na clara luz do dia.
E antes que eu a visse mergulhar por trás das montanhas,
Nuvens de Samantabadra surgiram dançando,
Formando uma cortina branca com seu balé esvoaçante.
Ao se levantarem ela já havia se recolhido elegantemente,
Como é próprio das grandes damas.
Agora ela está descansando, preparando-se para o próximo ato.
Enquanto isso o espetáculo continua.
Montanhas e nuvens dançam,
Pássaros voam no espaço,
O Sol ilumina o cenário...
E segue o baile.

Como havia prometido,
Ela mergulhou por detrás das montanhas vestida com os primeiros raios do dia que surgia.
Seu nome agora é Nova... sua forma, translúcida.
Vazia de tudo que é transitório,
Ela agora nos permite um vislumbre de sua verdadeira natureza...
Dai Komyô, o grande brilho... Corpo de luz, Sambogakaya.
Daqui não posso vê-la,
Pois ainda tenho olhos, ouvido, nariz, língua, corpo e mente.
Mas posso senti-la bem perto, quase dentro...
Seu brilho acende a chama do meu coração.
Sua luz completamente livre se reflete em minhas lágrimas de saudade...
A Lua numa gota de orvalho...
Lágrimas têm água e têm sal, assim como o oceano.
E de novo nos encontraremos no horizonte.

(Valeria Sattamini)